Plantas de diferentes espécies, como numa floresta, são encontradas no sítio das Mangueiras, no município de Florestal, na região metropolitana de Belo Horizonte. Só que, diferentemente da floresta, a produção feita pelo homem será comercializada. Em 1 hectare (ha) foi desenvolvido um modelo de agricultura ainda pouco utilizada no país: a sintrópica. “A lógica vem do funcionamento da floresta. Lá, convivem várias espécies de plantas”, conta o engenheiro agrônomo, palestrante e consultor técnico Lucas Faria Machado.
Dessa forma, cai por terra a ideia antiga de que para plantar alimentos é preciso desmatar. Aliás, a técnica inspirada na floresta recuperou parte do terreno degradado do sítio de Florestal. “Até o fim do ano, serão 2 ha plantados. Em cinco anos, todos os 4 ha da área de plantio”, diz. No sítio convivem hortaliças e árvores frutíferas.
Machado explica que diferentemente de uma área voltada para a produção de um único produto (monocultura), onde existe um período para colheita, no sítio a produção é constante, já que no local há culturas de diversos ciclos, ou seja, com colheitas em várias épocas. Logo, a produção é constante. “Isso é interessante para o produtor e mostra que a agricultura sintrópica é viável economicamente. É um sistema eficiente”, observa.
Segundo ele, existe uma lógica na escolha das plantas que irão dividir um canteiro. “A mandioca, por exemplo, acaba sombreando, protegendo o morango, que é uma fruta que não precisa de muita exposição ao sol”, diz.
De acordo com o agrônomo, outra vantagem é a economia de espaço. No caso da água, o consumo pode ser 75% menor na comparação com o modelo tradicional. “No começo, como o solo ainda está frágil, é necessário mais irrigação, o que com o tempo vai diminuindo”, diz. Ele conta que atualmente irriga o local três vezes por semana, quantidade que vai sendo gradativamente reduzida. “Depois de um tempo, será uma vez por semana. No futuro, uma vez ao mês”, diz.
O engenheiro agrônomo explica que, antes, o terreno do sítio era pobre em nutrientes, de cor clara e bem seco. “Por causa da situação do solo, usamos fertilizante orgânico, com esterco e húmus de minhoca, no início. Hoje, o solo está mais escuro e úmido”, frisa. A diferença entre a área recuperada e o terreno degradado é visível mesmo para quem não é especialista na área. Além do uso de fertilizantes naturais, o solo é coberto com capim triturado, o que ajuda a mantê-lo úmido. “Na floresta, o solo é coberto naturalmente, seja pela queda de folhas ou por árvores”, explica.
Biodiversidade
A agricultura sintrópica ajuda a devolver a fertilidade para a terra graças à recuperação da biodiversidade, explica o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Milho e Sorgo Thomaz Correa e Castro da Costa. “Outra vantagem é a redução da perda de energia, já que há menos exposição direta do solo ao sol, assim como ocorre com a floresta”, observa.
Ele conta que o principal expoente dessa modalidade de agricultura no país é o suíço Ernst Götsch, que nos anos 80 veio para o Brasil e se estabeleceu no Sul da Bahia. “Lá, ele restaurou o solo de uma extensa área”, diz.
Quando o pesquisador e produtor suíço chegou ao local, o nome da propriedade era Fazenda Fugidos da Terra Seca. Eram cerca de 500 ha de terra tornada improdutiva devido às práticas de corte de madeira, repetidos ciclos de cultivo de mandioca nas encostas dos morros, criação de suínos nas baixadas e formação de pastagens por meio de fogo ao longo das margens da estrada que corta a fazenda.
Atualmente, em torno de 410 ha foram reflorestadas, sendo por volta de 350 ha transformados em Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), além de 120 ha de reserva legal. E até nascentes ressurgiram no local, que mudou de nome e se chama Fazenda Olhos d’Água. (JG)
Fonte: O Tempo – Juliana Gontijo