Manter florestas em pé na Amazônia não é suficiente para evitar a perda de sua biodiversidade: distúrbios causados pelo homem, como queimadas, desmatamentos parciais — como extração seletiva ilegal de madeira — e a fragmentação do ecossistema, também reduzem severamente as formas de vida que habitam uma floresta.
Um grupo internacional de 28 pesquisadores, entre eles 21 brasileiros de várias instituições, conseguiu quantificar essa perda ao analisar o número de espécies animais e vegetais em florestas nas regiões de Paragominas e Santarém, no Pará, estado com as maiores taxas de desmatamento na região. Um estudo publicado na última semana na revista Nature avaliou o impacto da degradação ambiental causada pelo ser humano sobre a biodiversidade da Amazônia usando como referência 1.538 espécies de plantas, 460 de aves e 156 de insetos.
Foram analisadas 371 parcelas florestais no Pará, estado onde foi desmatada 34% de toda a floresta amazônica entre 1988 e 2015. Usando como referência a presença de indivíduos das espécies de plantas, aves e insetos em matas intactas, os pesquisadores criaram um índice chamado “déficit de valor de conservação” (CVD, em inglês). O índice equivale à diferença entre o que se esperava encontrar e a perda real de diversidade produzida pela degradação florestal. As medições revelaram que mesmo as áreas que cumpriam o Código Florestal, mantendo 80% da floresta como reserva legal, tinham um CVD de 39% a 54%. Isso significa que perderam entre 46% e 61% de sua biodiversidade original.
Extrapolando o resultado da análise das 371 parcelas florestais para todo o Pará, o grupo concluiu que a perda de biodiversidade causada pela degradação provocada pelo homem seria o equivalente ao desmatamento de 123 mil quilômetros quadrados— metade de toda a floresta que o Pará perdeu desde 1988. “Os dados indicam que o impacto da degradação pode ser bastante expressivo”, diz a bióloga Joice Nunes Ferreira, gestora do Núcleo de Meio Ambiente, Florestas e Ordenamento Territorial da Embrapa Amazônia Oriental e uma das autoras do estudo. Por isso, ela defende que a degradação receba dos programas de governo uma atenção semelhante ao desmatamento.
Fonte: Revista Pesquisa FAPESP – Rodrigo de Oliveira Andrade