Estabelecido pela Organização das Nações Unidas em 1972, o Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho) é uma oportunidade especial para pensarmos nas iniciativas globais pela conservação da biodiversidade e, sobretudo, para refletirmos sobre o papel de cada um de nós nessa responsabilidade conjunta.
Na semana passada, vimos os Estados Unidos anunciar a saída do país do Acordo de Paris – compromisso entre mais de 70 países destinado a reduzir as emissões de gases de efeito estufa para conter as mudanças climáticas.
A notícia de fato é preocupante porque tem efeitos diretos sobre a biodiversidade, a produção de alimentos e a nossa própria sobrevivência.
Por outro lado, a reação mundial contrária à decisão americana foi um sinal bastante positivo. Ela veio de todas as partes, de líderes, empresas, governantes e de cidadãos, gente como a gente. São cada vez mais frequentes as iniciativas não governamentais, comunitárias e até individuais para cuidar e usar melhor os recursos naturais.
Políticas públicas
No que diz respeito aos polinizadores, são inúmeros exemplos, em diversas frentes. No âmbito internacional, a conservação dos polinizadores está aos poucos entrando na pauta dos governos e sendo inserida nas políticas públicas. Há ainda um longo caminho a trilhar – e muito trabalho para colocar boa parte das ideias em prática –, mas é fato que a mudança está ocorrendo.
Um bom facilitador para trilhar tal caminho é a Avaliação Polinizadores, Polinização e Produção de Alimentos, relatório da Plataforma Intergovernamental para Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES). O estudo avaliou criticamente um vasto conhecimento (cerca de três mil artigos científicos) para garantir que tomadores de decisão tenham acesso a informações da mais alta qualidade.
Vale lembrar que o texto foi referendado pela Convenção da Diversidade Biológica (CBD), o que significa, na prática, que a Convenção apoia e encoraja os países a usarem o relatório para orientar seus esforços e desenvolver planos de ação que visem à melhoria da gestão de polinizadores, o ataque aos fatores de declínio dos polinizadores e a promoção de sistemas de produção agrícola sustentáveis, entre outros aspectos.
O documento ressalta algumas medidas para conservar os polinizadores de maneira eficiente, entre elas:
- Promoção de uma agricultura sustentável, que ajuda a diversificar a paisagem agrícola e faz uso de processos ecológicos, como parte da produção de alimentos;
- Manutenção ou criação de maior diversidade de habitats para os polinizadores em paisagens agrícolas e urbanas;
- Apoio a práticas tradicionais que gerem rotação de culturas e coprodução entre a ciência e o conhecimento local indígena;
- Promoção da educação e troca de conhecimentos entre agricultores, cientistas, indústria, comunidades e público em geral;
- Diminuição da exposição de polinizadores a pesticidas, reduzindo seu uso, buscando formas alternativas de controle de pragas, e adoção de uma série de práticas específicas da aplicação, incluindo as tecnologias de redução de deriva;
- Aprimoramento da criação de abelhas para controle de patógenos, assim como de melhor regulamentação do comércio e uso de polinizadores comerciais.
É fundamental que políticas públicas sejam adotadas institucionalmente para garantir que o meio ambiente seja conservado. Da mesma forma, é essencial que iniciativas não governamentais e comunitárias tenham a adesão cada vez maior de pessoas comuns, cidadãos que se engajem e assumam a responsabilidade de cuidar do bem comum.
Recentemente, a A.B.E.L.H.A. esteve presente em uma conferência nos Estados Unidos sobre Ciência Cidadã, no qual foram apresentados projetos de conservação e monitoramento de polinizadores que têm a participação direta do cidadão, com qualquer formação ou atividade profissional, contribuindo com pesquisadores na geração de dados científicos. Conheça alguns desses exemplos aqui.
Mas as ações não dependem necessariamente de movimentos coletivos: cada um, no quintal de casa, no seu bairro, inclusive nas grandes cidades, pode fazer a sua parte para conservar polinizadores, em especial, as abelhas. Lançado na semana passada, o e-book Biodiversidade em ação: conservando espécies nativas – Corredores ecológicos urbanos… seguindo a trilha da jataí em São Paulo é um guia prático para orientar cidadãos de centros urbanos que queiram promover corredores de plantas destinados a conservar a biodiversidade local, denominados corredores ecológicos urbanos.
Tais espaços são compostos por vegetações de diferentes características (arbustos, árvores) que fazem a conexão entre áreas naturais ou seminaturais, auxiliando na sobrevivência de muitas espécies, isoladas umas das outras pelas construções urbanas.
Seja coletiva ou individualmente, o importante é assumir a responsabilidade e colocar a mão na massa. Aproveite este Dia do Meio Ambiente para refletir sobre como você pode fazer a sua parte e dar a sua contribuição para cuidar da biodiversidade e do planeta, a casa de todos nós.