Saiba a importância das abelhas rainhas nas colmeias

Crédito: FCM

Rainha forte, colmeia forte. A frase é muito conhecida e repetida pelos apiários Brasil afora e resume bem como abelhas rainhas com boa genética são fundamentais para a formação de colmeias que resultam em alta produtividade de mel, pólen ou própolis.

É nesse caminho que o Projeto Abelha Rainha, desenvolvido em Itabuna, no sul da Bahia, vem multiplicando as abelhas mestras do gênero Apis por meio de melhoramento genético. As novas rainhas são distribuídas para apicultores da região com o objetivo principal de elevar a quantidade e a qualidade do mel produzido por eles. E o trabalho vem dando certo, com alguns apicultores mais que dobrando a produção das colmeias.

Realizado em parceria entre os produtores, o Núcleo de Apicultura e Meliponicultura, órgão da Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira), do Ministério da Agricultura, e a Veracel, empresa de silvicultura, o trabalho já distribuiu, desde o ano passado, cerca de 450 novas rainhas para produtores de três cidades do extremo sul baiano. A meta é chegar ao fim deste ano com outras 1.000 abelhas doadas, além de ampliar a área de atuação do projeto.

O desenvolvimento de novas abelhas e a orientação dos técnicos da Ceplac não têm custos ao produtor. A parceria ainda prevê material fornecido pela Veracel, que também permite a instalação dos apiários em suas plantações de eucalipto e a livre circulação dos apicultores por essas áreas.

Para iniciar o processo de produção das novas rainhas, a Ceplac selecionou, em 2016, as abelhas das colmeias mais produtivas da região, que continham também características como hábito de higiene, pouca defensividade, baixa tendência enxameatória, além da aceitação da cera alveolada.

A partir daí, os pesquisadores passaram a trabalhar em laboratório na melhoria genética e na multiplicação das rainhas utilizando o método Doolittle.

Método Secular

A técnica Doolittle é antiga, existe desde o final do século XIX, e consiste na utilização de pinça ou agulha chinesa para transferir as larvas dos alvéolos para as cúpulas artificiais. Deste momento até a fecundação das rainhas, correm 32 dias.

larvas cria Apis mellifera FCM
Crédito: FCM

“É um trabalho delicado, não pode machucar as larvas. O método é até simples, mas temos de estar atentos com relação à seleção do material que vamos reproduzir”, explica o engenheiro agrônomo e pesquisador da Ceplac Ediney Magalhães.

Para produzir rainhas, Ediney e sua equipe constroem as cúpulas, chamadas de realeiras. No mercado, é possível encontrar casulos em plástico e acrílico. “Mas nossa preferência aqui é confeccionar em cera, pelo fato de ser econômica e também por ser feita pela própria abelha, de forma natural, e não ter rejeição”, afirma.

Para formar a cúpula, é utilizado um bastão de madeira molhado. A ponta é emergida por duas vezes na cera aquecida. À medida que produz as cúpulas, Ediney as fixa sobre um painel com cera. Esse painel é colado num quadro de madeira e, então, levado pela primeira vez ao apiário.

Nessa fase, com as cúpulas vazias, as realeiras são colocadas em um enxame para a etapa de limpeza e impregnação por 15 minutos. “Isso é um macete que utilizamos aqui, porque vai ficar impregnado com o cheiro desse enxame e ela vai fazer a limpeza. Quando eu voltar com as cupulazinhas já enxertadas, as abelhas vão ter uma aceitação maior”, diz o engenheiro.

Passados os minutos, o quadro de realeiras é levado de novo ao laboratório para a transferência das larvas dos alvéolos naturais para as cúpulas de recria. Um trabalho rápido e, logo depois, o quadro já está de volta ao enxame previamente orfanado, ou seja, sem a rainha antiga.

Com isso, a colmeia começa a trabalhar obsessivamente para produzir uma nova reprodutora. Como uma espécie de incubadora, as cúpulas de cera são alimentadas pelas abelhas comuns com geleia real e depois fechadas, formando um casulo maior, já que a rainha chega a ter até quatro vezes o tamanho de uma abelha operária.

Após oito dias, esses casulos são retirados das colmeias para mais uma ida ao laboratório. Desta vez, Ediney coloca cada um dos casulos em “gaiolas” (pequenas caixas de madeira), para evitar que a primeira rainha ao nascer mate as outras que estão ao lado. Só depois disso, as realeiras voltam para o enxame para o processo de maturação da larva. “Para nascer, são mais oito dias”, explica o pesquisador da Ceplac. Depois da eclosão, as rainhas são levadas novamente ao laboratório, onde são demarcadas antes de serem mandadas para as colmeias.

A introdução de uma nova rainha é um momento de expectativa. O enxame será privado da rainha antiga e pode não aceitar a nova. Por isso, a nova rainha ainda fica dentro da gaiola por 24 horas e só é liberada depois que a colmeia deixa de estranhar o cheiro. O apicultor tem de ficar atento pelos próximos dois dias para se certificar de que não houve rejeição.

“Aqui nós fazemos várias coisas de uma vez só. Trocamos a rainha por outras altamente produtivas. E, como o enxame fica numeroso rapidamente, também dividimos em dois. Então, o produtor consegue aumentar seu plantel com a rainha que ele recebeu da Ceplac”, afirma Ediney Magalhães. Uma rainha nova chega a pôr até 3 mil ovos por dia, acrescenta.

Renda

No município baiano de Guaratinga, na divisa com Minas Gerais e Espírito Santo, Globo Rural acompanhou a colheita da florada do velame-do-campo em apiários com rainhas trocadas pelo projeto um ano atrás. E os resultados são surpreendentes. Quem produzia 20 quilos hoje está alcançando até 70 quilos de mel por colmeia. “A rainha, por ser nova, já aumenta em 30% a produção. Isso está incentivando a produzir mais e as pessoas estão mudando o padrão de vida”, diz Gilson Pereira da Paixão, presidente da associação de apicultores do município.

Essa é a realidade do apicultor Anderson Soares. “Venho de um ano de seca em que produzi 200 quilos e, neste ano, a expectativa é de 2 toneladas, com poucos enxames. Estou rindo pelas paredes”, diz ele.

O Sindicato dos Produtores Rurais de Guaratinga prevê aumento da produção das atuais 40 toneladas para 150 toneladas de mel em cinco anos. Atualmente, 20% do mel produzido no sul da Bahia fica na região, e os 80% restantes são exportados para países como Alemanha e Estados Unidos.

Fonte: Revista Globo Rural – Fernando Schwarz

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