Crowdfunding no mundo das abelhas

Nos negócios, é muito comum que uma empresa necessite de um investimento externo para crescer. Este dinheiro extra, durante a maior parte do tempo, era injetado por uma única pessoa.  No entanto, nos últimos anos, surgiu um modelo de captação de recursos que permite que várias pessoas possam investir em uma ideia: o crowdfunding.

Essa “vaquinha virtual” tem histórias de muito sucesso. Uma delas vem de uma startup da área rural da Austrália: a Flow. A empresa criou uma colmeia que permite a extração do mel com uma “torneira”. Isso faz com que os apicultores não precisem abrir nenhum compartimento da colmeia e não incomodem as abelhas.

Em 23 de fevereiro de 2015, a empresa criou uma campanha de crowdfunding no Indiegogo, uma das maiores plataformas de financiamento coletivo do mundo. O objetivo da Flow era arrecadar US$ 70 mil.

No entanto, a startup bateu a meta em apenas cinco minutos. Em 24 horas, a campanha arrecadou US$ 2 milhões. Em 20 de abril, quando o crowdfunding foi encerrado, a Flow conseguiu US$ 13,3 milhões e superou sua meta inicial em 17.380%.

A campanha da Flow entrou na lista dos crowdfundings mais bem-sucedidos já realizados no planeta. É a mais lucrativa entre projetos relacionados aos mercados da alimentação e do agronegócio. É ainda o maior projeto de crowdfunding realizado fora dos EUA. No geral, é a 29ª iniciativa que mais arrecadou dinheiro.

De acordo com Stuart Anderson, 63 anos e cofundador da empresa – ele comanda o negócio junto com o filho Cedar, de 37 –, a campanha foi lançada em uma época em que se falava muito sobre a possibilidade da extinção das abelhas. “Falava-se muito no papel das abelhas nas nossas vidas e como elas poderiam ser extintas por causa de antenas de celulares, que estavam prejudicando a formação de colônias, e pelo uso de pesticidas. A preocupação das pessoas em relação ao meio ambiente e à origem de seus alimentos aumentou. Isso contribuiu para o sucesso da campanha”, afirma.

No entanto, Stuart não acredita que o sucesso da campanha foi uma questão de sorte. Segundo ele, há dois segredos para quem deseja arrecadar bastante dinheiro por meio de “vaquinhas virtuais”: paixão pelo que faz e muito preparo. “É importante amar o que você está fazendo, porque empreender é uma tarefa intensa e árdua. E você precisa de um apoio, de pessoas muito capacitadas e confiáveis. Quanto mais preparado você estiver antes de lançar uma campanha, melhor, especialmente no que diz respeito a saber responder as perguntas das pessoas. Comece a estudar e preparar a campanha com pelo menos seis meses de antecedência.”

Mel na torneira

Antes de abrir a Flow, a família Anderson produzia mel como um hobby – Stuart trabalhava em uma ONG e Cedar era instrutor de parapente. A paixão pela apicultura começou com Don Anderson, pai de Stuart e avô de Cedar, que, inclusive, tem colmeias desde os seis anos de idade. Segundo os fundadores da colmeia, a produção era “semicomercial”: eles até vendiam o mel, mas a maioria do produto era consumido, em sua maioria, pela família Anderson.

Além da paixão pelo mel, Cedar e Stuart adoram as abelhas. E Cedar, especialmente, ficava triste ao ver que, ocasionalmente, os insetos ficavam incomodados e podiam ser esmagados durante a extração do produto. Aquela insatisfação levou à vontade de criar uma maneira diferente de conseguir o mel.

Pai e filho levaram cerca de 10 anos para conceber a Flow. A primeira ideia importante foi mudar a orientação dos favos de mel na colmeia: em vez de ficarem na horizontal, como ocorre normalmente, os hexágonos da Flow estão na vertical.

Os favos da Flow são feitos de um plástico que, de acordo com a empresa, não traz nenhum mal às abelhas e a quem consome o mel. A colmeia tem uma alavanca, que, quando girada, “abre” os hexágonos, fazendo o mel escorrer para baixo. Na base, um tubo de vidro é conectado à colmeia, facilitando a retirada do produto.

O processo não incomoda as abelhas. No entanto, a Flow recomenda que os clientes iniciantes usem trajes de proteção para que não haja problemas.

A Flow já vendeu, desde seu lançamento em 2015, 60.000 colmeias. A empresa não revela seu faturamento.

O maior público da empresa são pequenos e médios apicultores. “No entanto, há empresas maiores e pessoas que não cultivam mel de forma comercial. No fim, nosso consumidor é alguém preocupado com o meio ambiente, que deseja produzir um pouco da própria comida e que deseja ter uma relação melhor com o mundo à sua volta”, diz Stuart.

O preço das colmeias da Flow começam em US$ 499 (R$ 1.650) e vão até US$ 699 (R$ 2.300). Os produtos são feitos de cedro ou araucária e têm entre três e sete colunas de favos de mel.

Atualmente, o site da Flow não vende as colmeias para o Brasil. No entanto, de acordo com os fundadores, é possível fazer negócio com eles pelo e-mail info@honeyflow.com.

Fonte: PEGN – Adriano Lira