Caminhos para a proteção dos polinizadores

São Paulo, 26 de fevereiro de 2016 – Um estudo divulgado hoje (26) na Malásia pela Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) aponta uma série de fatores que estão colocando em risco diversas espécies de polinizadores, muitos deles causados pelo homem, e que ameaçam não apenas a agricultura e o abastecimento de diversas populações como também bilhões de dólares em produção agrícola.

Intitulado Avaliação Temática de Polinizadores, Polinização e Produção de Alimentos, o estudo é um esforço da IPBES, painel intergovernamental independente aberto a todos os países-membros das Nações Unidas. Criado em abril de 2012, é o principal órgão intergovernamental para avaliar o estado da biodiversidade do planeta, seus ecossistemas e os serviços essenciais que prestam à sociedade.

O estudo avaliou criticamente um vasto conhecimento (cerca de 3.000 artigos científicos) sobre polinizadores, polinização e produção de alimentos para garantir que tomadores de decisão tenham acesso a informações da mais alta qualidade. A avaliação foi compilada por uma equipe de 77 especialistas de todo o mundo, tendo passado por duas rodadas de revisão por pares que envolveram especialistas e governos.

“Os polinizadores são importantes contribuintes para a produção mundial de alimentos e a segurança nutricional”, disse Vera Lucia Imperatriz Fonseca, co-presidente da avaliação e professora da Universidade de São Paulo. “Sua saúde está diretamente ligada ao nosso próprio bem-estar. ”

Cenário

Existem mais de 20 mil espécies de abelhas, além de muitas espécies de borboletas, moscas, mariposas, vespas, besouros, pássaros, morcegos e outros animais que contribuem para a polinização.

Mais de três quartos das culturas alimentares do mundo dependem pelo menos em parte da polinização por insetos e outros animais. Entre US$ 235 bilhões e US$ 577 bilhões do valor da produção alimentar global anual depende de contribuições diretas dos polinizadores. Várias culturas também representam uma importante fonte de renda em países em desenvolvimento.

“Sem polinizadores, muitos de nós já não seria capaz de desfrutar de um café, chocolate e maçãs, entre muitos outros alimentos que fazem parte de nossas vidas diárias”, disse Simon Potts, outro co-presidente da avaliação e Professor de Biodiversidade e Serviços Ambientais, Faculdade de Agricultura, Política e Desenvolvimento da Universidade de Reading, no Reino Unido.

Produção Agrícola

O volume da produção agrícola de culturas dependentes de polinização animal aumentou em 300% durante os últimos 50 anos. Entretanto, culturas que dependem de polinizadores mostram menor crescimento e estabilidade no rendimento em comparação com as culturas não-dependentes.

“Polinizadores selvagens em certas regiões, especialmente abelhas e borboletas, estão sendo ameaçados por uma variedade de fatores”, disse o Vice-Presidente IPBES Sir Robert Watson. “Seu declínio se deve principalmente às mudanças no uso do solo, práticas de agricultura intensiva e uso de pesticidas, espécies exóticas invasoras, doenças e pragas, além das alterações climáticas. ”

Pragas e doenças representam uma ameaça especial para as abelhas gerenciados, mas o risco pode ser reduzido através de uma melhor detecção de doenças e gestão, e os regulamentos relativos ao comércio e à circulação de abelhas.

Conservação

Além de apontar os riscos, o documento ressalta uma série de caminhos para conservar os polinizadores de maneira eficiente.

“A boa notícia é que uma série de medidas pode ser tomada para reduzir os riscos para os polinizadores, incluindo as práticas baseadas no conhecimento indígena e local”, disse Zakri Abdul Hamid, presidente fundador IPBES.

  • As salvaguardas incluem a promoção de uma agricultura sustentável, que ajuda a diversificar a paisagem agrícola e faz uso de processos ecológicos, como parte da produção de alimentos.
  • Manutenção ou criação de maior diversidade de habitats para os polinizadores em paisagens agrícolas e urbanas;
  • Apoio a práticas tradicionais que gerem rotação de culturas e coprodução entre a ciência e o conhecimento local indígena;
  • Promoção da educação e troca de conhecimentos entre agricultores, cientistas, indústria, comunidades e público em geral;
  • Diminuição da exposição de polinizadores a pesticidas, reduzindo seu uso, buscando formas alternativas de controle de pragas, e adoção de uma série de práticas específicas da aplicação, incluindo as tecnologias de redução de deriva.
  • Aprimoramento da criação de abelhas para controle de patógenos, assim como de melhor regulamentação do comércio e uso de polinizadores comerciais.

IPBES - números